domingo, 26 de agosto de 2012

Palavras


As gramáticas classificam as palavras em substantivo, adjetivo, verbo, advérbio, conjunção, pronome, numeral, artigo e preposição.
Os poetas classificam as palavras pela alma porque gostam de brincar com elas e pra brincar com elas é preciso ter intimidade primeiro.
É a alma da palavra que define, explica, ofende ou elogia, se coloca entre o significante e o significado pra dizer o que quer dar sentimento às coisas, fazer sentido.
Nada é mais fúnebre que a palavra fúnebre.
Nada é mais amarelo do que o amarelo-palavra.
Nada é mais concreto do que as letras c.o.n.c.r.e.t.o, dispostas nessa ordem e ditas dessa forma, assim, concreto, e já se disse tudo, pois as palavras agem, sentem e falam por elas próprias.
A palavra nuvem, chove.
A palavra triste, chora.
A palavra sono, dorme.
A palavra tempo, passa.
A palavra fogo, queima.
A palavra faca, corta.
A palavra carro, corre.
A palavra palavra, diz o que quer. E nunca desdiz depois.
As palavras têm corpo e alma, mas são diferentes das pessoas em vários pontos. As palavras dizem o que querem, está dito, e ponto.
As palavras são sinceras, as segundas intenções são sempre das pessoas.
A palavra juro não mente.
A palavra mando não rouba.
A palavra cor não destoa.
A palavra sou não vira casaca.
A palavra liberdade não se prende.
A palavra amor não se acaba.
A palavra idéia não muda. Palavras nunca mudam de idéia.
Palavras sempre sabem o que querem.
Quero não será desisto.
Sim nunca jamais será não.
Árvore não será madeira.
Lagarta não será borboleta.
Felicidade não será traição.
Tesão nunca será amizade.
Sexta-feira não vira Sábado nem depois da meia-noite.
Noite nunca vai ser manhã.
Um não serão dois em tempo algum.
Dois não serão solidão.
Dor não será constantemente.
Semente nunca será flor.
As palavras também tem raízes, mas não se parecem com plantas, a não ser algumas delas: verde, caule, folha, gota.
As células das palavras são as letras. Algumas são mais importantes que outras.
As consoantes são um tanto insolentes. Roubam as vogais pra construírem sílabas e obrigam a língua a dançar dentro da boca. A boca abre ou fecha quando a vogal manda.
As palavras fechadas nem sempre são mais tímidas. A palavra sem-vergonha está aí de prova.
Prova é uma palavra difícil.
Porta é uma palavra que fecha.
Janela é uma palavra que abre.
Entreaberto é uma palavra que vaza.
Vigésimo é uma palavra bem alta.
Carinho é uma palavra que falta.
Miséria é uma palavra que sobra.
A palavra óculos é séria.
Cambalhota é uma palavra engraçada.
A palavra lágrima é triste.
A palavra catástrofe é trágica.
A palavra súbito é rápida.
Demoradamente é uma palavra lenta.
Espelho é uma palavra prata.
Ótimo é uma palavra ótima.
Queijo é uma palavra rato.
Rato é uma palavra rua.
Existem palavras frias como mármore.
Existem palavras quentes como sangue.
Existem palavras mangue, caranguejo.
Existem palavras lusas, Alentejo.
Existem palavras itálicas, ciao.
Existem palavras grandes, anticonstitucional.
Existem palavras pequenas: microscópio, minúsculo, molécula, partícula, quinhão, grão, covardia.
Existem palavras dia: feijoada, praia, boné, guarda-sol.
Existem palavras bonitas: madrugada.
Existem palavras complicadas: enigma, trigonometria, adolescente, casal.
Existem palavras mágicas: shazam, abracadabra,pirlimpimpim, sim e não.
Existem palavras que dispensam imagens: nunca, vazio, nada, escuridão.
Existem palavras sozinhas: eu, um, apenas, sertão.
Existem palavras plurais: mais, muito, coletivo, milhão.
Existem palavras que são palavrão.
Existem palavras pesadas: chumbo, elefante, tonelada.
Existem palavras doces: goiabada, marshmallow, quindim, bombom.
Existem palavras que andam: automóvel.
Existem palavras imóveis: montanha.
Existem palavras cariocas: Corcovado.
Existem palavras completas: elas todas.
Toda a palavra tem a cara do seu significado. A palavra pela palavra, tirando o seu significado fica estranha. Palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra não diz nada, é só letra e som.

Adriana Falcão


Eu e Adriana logo após sua mesa na 4ª Tarrafa Literária, no último sábado.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O que é Leitura?

Proposta de dissertação sobre o Livro "O que é Leitura" (Martins, Maria H. / Brasiliense).




         A idéia que temos de leitura remete diretamente a textos (livros, revistas, etc.). Porém, ‘ler’ significa muito mais do que isso: é interpretar não apenas o texto, mas o mundo à volta dele (e à nossa volta).
         De nada adianta lermos um texto com o objetivo de entender a ideia que ele quer passar, se não tivermos conhecimento de mundo para tanto. E o que seria esse tal  de ‘conhecimento de mundo’?


         Todas as informações que guardamos referentes a tudo o que vemos e ouvimos por aí – na TV, nos filmes, nos livros, nas músicas e até nas conversas com as pessoas e suas histórias; tudo isso resume nosso conhecimento de mundo. Quanto mais informações adquirimos do mundo, mais apurado fica o nosso senso de interpretação. Esta é uma das razões pelas quais estar ‘antenado’ com as notícias é considerado tão importante.

E será que ler nos limita apenas às palavras?
Assim como diz o livro, ler é mais do que decodificar palavras. É também saber decodificar imagens, sons, cores, e todas as formas de expressões existentes. Fazer uma leitura de tudo o que nos é apresentado pode levar-nos ao desenvolvimento de um senso crítico aguçado diante das escolhas e opções possíveis. Isso é importante pela seguinte razão: se aceitássemos tudo o que a sociedade tem a nos oferecer, nos tornaríamos apenas mais um modelo de mediocridade diante da grandiosidade do cérebro humano; somos capazes de pensar, e isso já é um grande privilégio. Então, porque deveríamos desperdiçar esta grandiosa capacidade?

*texto curto, escrito rapidamente logo antes da aula - acompanhado de uma desagradável dor de cabeça...
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