Agora percebo por que demorei tanto a entender. Me parece que tudo acontece na hora em que deve se mostrar. Não sei se mereço o entendimento, afinal não sei viver. Mas quem é que sabe? Mesmo tendo a consciência de que é possível viver do jeito errado, prefiro continuar com o que acredito, enquanto ainda não me provam o contrário. Vivo minha certeza de existência, fazendo tudo o que penso ser o mais compensador e correto e, no entanto, me perco no meio do caminho de cada constatação. E então, paro, olho pra trás e me pergunto se devo seguir cegamente ou pegar um atalho. Ás vezes, acuada, escolho dar passos pra trás....
Tanto faz, nenhuma direção me revela onde vai dar. Nada é definitivo afinal, tudo é propenso a mudanças, a mutações... Mesmo o mais certo dos caminhos pode ganhar um desvio inesperado.
A única coisa que jamais me permito fazer é parar de andar. Pois aí, seria desistir. E, sabendo do desconhecido, desistir seria burrice. Pois já que desconheço, não posso afirmar que será árduo. Tudo tende a ser fácil. Do mesmo modo que tende a ser difícil.
É como um copo meio vazio ou meio cheio. Nós escolhemos a interpretação.
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"Sou inquieta e áspera e desesperançada. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que não sei uisar amor. Ás vezes me arranha como se fossem farpas.
Clarice Lispector em Água Viva