domingo, 14 de março de 2010

pedaço infernal de mim.

Ler Clarice é como dar um mergulho no fundo do seu próprio oceano.
É fechar os olhos e saltar de um abismo, em meio à uma tempestade, em direção ao turbulento mar que se agita dentro da alma.
Mesmo para os que primeiramente não gostam, o convite de Clarice torna-se irrecusável no primeiro parágrafo. Só aqueles que tem medo de conhecer um pouco mais de si próprios são incapazes de perceber as metáforas e entender o significado das constatações dos personagens de Clarice, ou são capazes apenas de ignorá-los. Todos deviam saber que há momentos de se ler alguma obra de Clarice. Se não for agora, mais tarde ela se encaixará em algum momento da sua vida.

A escritora expressa todos os pensamentos inquietos e questionadores sobre a humanidade à sua volta (e sobre si própria), de uma forma tão instigante que faz o leitor sentir - e realmente sentir - o poder de todas as suas frases. Uma vez imerso, a identificação é inevitável. É como se as palavras contidas em suas histórias viessem de um lugar escondido, guardado dentro de nós mesmos esperando o momento oportuno para se revelar e fazer renascer o entendimento ou, para alguns, virar o mundo de cabeça para baixo. Dependendo do ponto de vista, mais correto seria dizer 'virar de cabeça para cima'...
Se todas as pessoas lessem, em suas vidas, ao menos uma frase de Clarice que lhe coubesse e a guardasse bem nítida na memória, tendo plena certeza de seu significado, as formas de terapia no mundo seriam outras. Clarice nos abre a cabeça; nos dá a oportunidade de expandir nossa essência através do autoconhceimento quase que obrigatório àquele que a lê.
Ainda não ouvi falar de alguém capaz de superá-la na sua habilidade e talento de expressar os pensamentos mais inquietos de uma forma tão intensa e reveladora; provavelmente não há ninguém apto o bastante para sacudir os questionamentos internos e fazê-los transbordar com tanto fervor. O que há de semelhante espalhado por aí são excertos adaptados da mente extraordinária de Clarice Lispector.


quarta-feira, 10 de março de 2010

maspoxavida

Semana passada minha amiga me mostrou um canal do youtube chamado maspoxavida, feito por um cara chamado PC Siqueira.
Desde quando vi o primeiro vídeo eu venho assistindo a todos que ele posta no canal, viciei mesmo. Todos são sobre assuntos aleatórios que todo mundo pensa mas ninguém fala, coisas que muita gente aponta, critica, mas que no fundo, pára pra pensar.
As pessoas são realmente estranhas. São movidas pelo interesse, pela modinha, por aquilo que nem elas mesmas sabem o que representa.
Quantas meninas davam em cima do PC Siqueira antes do canal do youtube dele aparecer na mtv e ficar famosinho na internet? O cara é vesgo, tem tatuagens de videogame no braço e usa um óculos de aro grosso. Conheço muita gente que nem sequer olharia pra um cara descrito assim. Foi só ele receber 500 comentários no youtube que apareceu um monte de gente querendo ser amiga dele. Bastaria ouvir ele dizer o que pensa, bastaria olhar um pouco mais pra ver que ali existe muito mais que o estrabismo ou as tatuagens peculiares.
O que quero dizer com isso é que a maioria das pessoas é realmente hipócrita e preconceituosa e isso realmente me incomoda.
Vivemos numa sociedade onde um explora e usa o outro, sem se importar quem vai ser a vítima no final da história, e eu não sei ser assim. Meus pais me ensinaram que submeter alguém aos seus caprichos e às suas vontades só por que você quer, é errado. Essa sociedade esconde os próprios defeitos, mostrando-se magistral e imbatível quando, na verdade, está tão perdida que precisa atuar constantemente pra não perder a euforia aparentemente simpática da platéia.
Não sei se o mundo seria melhor se a maioria de hoje pensasse como a minoria - minoria da qual eu faço parte - mas estou certa de que não sei viver seguindo um roteiro escrito pra um teatro de fantoches; me soltei de minhas amarras e sei onde quero ir. É exatamente como o Mito da Caverna de Platão; tenho a plena consciência de que lá fora as coisas são muito mais favoráveis e que minhas decisões serão bem sucedidas se eu continuar assim. Mas isso eu falo por mim. E quanto aos outros? Me preocupo com os outros por precisar de outras pessoas ao meu redor pra expandir meus conhecimentos e preencher minhas lacunas; o ser humano precisa da sociedade afinal, ainda que ela seja hostil. A solução portanto é encontrar seu quadro social - sua parte em toda essa movimentação, e não somente tentar se adaptar ao que você não se integra só pra não ter que encarar a dor veemente de uma solidão devastadora. Tenho a impressão de que o preço que se paga por viver fingindo será muito alto quando a conta chegar. E além de caro será irremediável. Gostaria que mais pessoas como o PC aparecessem por aí; saíssem de seus esconderijos e dissessem o que pensam (ainda que fosse apenas por distração).
Concluindo: prefiro não dar ouvidos ao que não constrói, ainda que o incômodo seja meu maior preço. Esse eu estou disposta a pagar, tão insignificante ele é - ou melhor: assim eu o faço ser visto.

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segunda-feira, 1 de março de 2010

Bloqueio criativo

Simplesmente acontece.
Não é resultado de noite mal dormida nem de amor perdido.
Não é por motivo de doença nem morte de parente próximo.
Não chega a ser nem mesmo por pura preguiça (e olha que e esta seria a razão mais ordinária!)
A névoa densa e insistente que cobre as idéias prazenteiras vem sem aviso prévio, cheia de si e batendo o pé, como quem diz: "não! hoje a senhorita não vai criar texto algum!"
E eu fico aqui, olhando o último texto escrito sendo o responsável pelo grande eco presente neste humilde blog.
Farei o possível para alimentar a criatividade.
Até lá.
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