Eu nunca gostei de carnaval. Sempre que saía pra festejá-lo era pra dar uma chance a mim mesma de me divertir. Claro que nunca funcionou: eu deixei de gostar de axé aos 15 anos (confesso!) e portanto o resultado era sempre uma saída bacana até, como qualquer outra, exceto pelo fato de que minha irritação era visível ao me deparar com algum grupo de foliões entusiasmado jogando balões d'água em qualquer criatura que passasse por perto.
Eu não dou a mínima para o carnaval, não me importo mesmo. Não me interessa qual escola ganhou, qual o tema deste ano pra escola campeã do ano passado, qual artista internacional super famoso e requisitado foi assistir aos desfiles das escolas do Rio.
Se você reparar, vai ver que todas as notícias de todos os meios de comunicação do país nesta época são sobre escolas de samba, artistas que desfilarão nas escolas de samba, figurinos e temas das escolas de samba, fantasias, alegorias, bailes, enredos e tudo o que está ligado a essa festa.
Talvez seja até válido que haja essa parte de folia e júbilo; o carnaval do Brasil é conhecido mundialmente e isso atrai turistas e movimenta a economia, acho até bem bacana... Não sou a favor da extinção disso tudo (afinal quem é que não curte um bom samba?), mas parar o mundo por que é carnaval, é demais; é festa demais, folia demais, confete demais, importância demais a uma festa que deveria ser apenas uma distração.
Fulano tem problemas de saúde e de grana, mas gasta R$600,00 numa fantasia pra sair na Escola de Samba e aparecer na Globo, pois não importa que ele more num lugar onde a rua alague a cada tempestade e ele precise acordar todo santo dia às 5h30 da manhã pra poder pegar um ônibus lotado ás 6h pra ir trabalhar; ou que ele não tenha um atendimento médico decente; ou que ele tenha um emprego onde é preciso trabalhar 44h por semana pra ganhar um salário vergonhoso de R$510,00/ mês. Ou, ás vezes, nem isso.
O que me intriga de verdade é ver que o povo brasileiro tem grana pra se esbaldar no Carnaval, mas exige bolsa isso e auxílio aquilo do governo, como se a culpa por toda a miséria da vida fosse dos políticos corruptos e suas leis mal formuladas. Eles que se virem não é mesmo? Afinal são eles quem decidem, nós apenas acatamos!
Tento mudar de opinião, mas não consigo deixar de ver o quanto o comodismo é abundante no país onde eu vivo, e isso é vergonhoso. Talvez eu esteja sendo radical, talvez o buraco seja mais embaixo. Sei quantas pessoas se envolvem nisso tudo e o quanto um simples carro alegórico pode significar na vida de um carnavalesco, mas aí é que está: é atenção demais numa coisa e desprezo por outras.
Só pra concluir: o Carnaval acaba na quarta feira de cinzas e dura 4 dias. E quanto ao resto do ano?