quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Mais de mil palhaços

Eu nunca gostei de carnaval. Sempre que saía pra festejá-lo era pra dar uma chance a mim mesma de me divertir. Claro que nunca funcionou: eu deixei de gostar de axé aos 15 anos (confesso!) e portanto o resultado era sempre uma saída bacana até, como qualquer outra, exceto pelo fato de que minha irritação era visível ao me deparar com algum grupo de foliões entusiasmado jogando balões d'água em qualquer criatura que passasse por perto.
Eu não dou a mínima para o carnaval, não me importo mesmo. Não me interessa qual escola ganhou, qual o tema deste ano pra escola campeã do ano passado, qual artista internacional super famoso e requisitado foi assistir aos desfiles das escolas do Rio.
Se você reparar, vai ver que todas as notícias de todos os meios de comunicação do país nesta época são sobre escolas de samba, artistas que desfilarão nas escolas de samba, figurinos e temas das escolas de samba, fantasias, alegorias, bailes, enredos e tudo o que está ligado a essa festa.
Talvez seja até válido que haja essa parte de folia e júbilo; o carnaval do Brasil é conhecido mundialmente e isso atrai turistas e movimenta a economia, acho até bem bacana... Não sou a favor da extinção disso tudo (afinal quem é que não curte um bom samba?), mas parar o mundo por que é carnaval, é demais; é festa demais, folia demais, confete demais, importância demais a uma festa que deveria ser apenas uma distração.
Fulano tem problemas de saúde e de grana, mas gasta R$600,00 numa fantasia pra sair na Escola de Samba e aparecer na Globo, pois não importa que ele more num lugar onde a rua alague a cada tempestade e ele precise acordar todo santo dia às 5h30 da manhã pra poder pegar um ônibus lotado ás 6h pra ir trabalhar; ou que ele não tenha um atendimento médico decente; ou que ele tenha um emprego onde é preciso trabalhar 44h por semana pra ganhar um salário vergonhoso de R$510,00/ mês. Ou, ás vezes, nem isso.
O que me intriga de verdade é ver que o povo brasileiro tem grana pra se esbaldar no Carnaval, mas exige bolsa isso e auxílio aquilo do governo, como se a culpa por toda a miséria da vida fosse dos políticos corruptos e suas leis mal formuladas. Eles que se virem não é mesmo? Afinal são eles quem decidem, nós apenas acatamos!
Tento mudar de opinião, mas não consigo deixar de ver o quanto o comodismo é abundante no país onde eu vivo, e isso é vergonhoso. Talvez eu esteja sendo radical, talvez o buraco seja mais embaixo. Sei quantas pessoas se envolvem nisso tudo e o quanto um simples carro alegórico pode significar na vida de um carnavalesco, mas aí é que está: é atenção demais numa coisa e desprezo por outras.
Só pra concluir: o Carnaval acaba na quarta feira de cinzas e dura 4 dias. E quanto ao resto do ano?

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Peste Maligna

Em algum lugar de Santos existe uma senhora que sabe-se lá por quê começou a se sentir no direito de me dizer o que fazer, assim, como se fosse uma pessoa íntima mesmo. Então, num certo dia, iniciou uma conversa sobre religião comigo. Estava eu ali, quieta, paradinha no balcão da papelaria, morrendo de fome e pensando se almoçaria um misto quente com coca-cola ou arroz com salada e batata frita [eram quase 11h da manhã], só esperando ela terminar o serviço que eu tinha dado à ela, quando ela iniciou uma conversa sobre Deus.
Primeiro que a pessoa estava ouvindo uma dessas rádios evangélicas, na qual o programa da vez era sobre a última reunião contra a 'peste maligna'.
Me perguntou se eu era católica, e eu respondi que não tinha uma religião certa, e que apenas acreditava em Deus, com um tom de quem não está muito animada pra falar sobre o assunto. Mas infelizmente ela não notou a minha falta de entusiasmo e disse como se fosse minha tia:
-Olha, 'cê sabe que precisa de uma religião, né?
Dei um sorriso amarelo, com a mesma cara de antes. E irritantemente ela fez o que eu temia: começou a pregar seus conceitos evangélicos, dizendo que Deus não ajuda quem não vai à igreja [ela se referia à igreja dela, certamente], e fez até uma comparação com baile funk O_o, afirmando que Deus não vai aonde ele não gosta, da mesma forma que uma pessoa que não curte funk não freqüenta um lugar onde a música toca. Eu continuava com aquela cara de 'não se meta na vida dos outros' e ela, insatisfeita com a minha resposta perguntou se eu namorava. ¬¬
Respondi que não, e que não tava muito preocupada com isso. Rapidamente ela me fez uma indicação: -'Cê sabia que existe um culto chamado Terapia do Amor?
Não, aí já era demais! Áquela hora da manhã eu só queria almoçar, ficar no meu canto, e a última coisa que eu precisava era de uma senhora evangélica intromedida tentando me arranjar namorado. Felizmente alguma coisa a distraiu e ela esqueceu desse assunto. Ela terminou o serviço, eu disse um obrigada rapidinho sem olhar em seu rosto (temendo que seu próximo passo fosse me apresentar um pretendente 'indispensável') e fui embora.
Mais tarde, alimentada e descansada comecei a pensar naquilo. Me intriga o fato de algumas pessoas serem fanáticas por suas religiões a tal ponto que se intrometa na vida alheia. Não, eu não freqüento a igreja, e daí? Vou pro inferno por causa disso? E se for, não é problema meu? Religião é algo de cada um, algo particular. Eu já tive amigos evangélicos, espíritas, católicos, umbandas, e ateus. Mas nunca tentei impor meus conceitos a eles. E alguns, como já me conheciam, me deixavam em paz com minhas crenças.
Portanto, meus caros, jamais tentem impôr seu modo de vida às pessoas à sua volta, por que nós nascemos diferentes exatamente para continuarmos diferentes, para manter o equilíbrio entre nós. Acreditar em Deus ou não é apenas mais uma característica de cada um, nada de imposições a pontos de vista que deveriam ser livres!
Infelizmente essa liberdade nos some em certos momentos.
Em 21/01/2007

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Respeitável público

É fácil seguir os outros. Seus costumes, suas idéias. Copiar os sonhos e adaptá-los á sua própria vida. Vestir o que todos vestem, pensar o que todos pensam. É fácil ser como todo mundo. Não é preciso inovar, nem ser original. Não é preciso nem mesmo raciocinar. Trancar as próprias idéias e anseios num baú velho e esquecer que ele existe. Escondê-lo num lugar tão oculto que será preciso muito esforço pra lembrar onde ele pode estar.
Não dá trabalho ser igual. A direção aponta em todas as partes, basta seguir as placas. Se perder é impossível, e assim não há confusões de personalidade, apenas a certeza daquela que ali está - mesmo que não seja real. Fazer da vida um espetáculo teatral é muito mais fácil do que descer do palco e encarar os rostos da platéia de frente. As críticas jamais são ouvidas, e assim o medo de errar jamais transparece. Se por acaso tropeçar e cair, a personagem finge que aquilo faz parte do roteiro. Todas as falas são ensaiadas, todos os figurinos são minuciosamente experimentados e todas as caretas aperfeiçoadas na frente do espelho luminoso do camarim.
Difícil é seguir as próprias metas, seguir os próprios sonhos. Esse papinho clichê dos poetas e piegas. O mundo é dos espertos e os burros buscam a felicidade seguindo os próprios caminhos. Tolos! Já deviam saber que o caminho é árduo. Que as pedras nas quais vão tropeçar machucam, fazem sangrar. E sangrar dói. A dor não pode existir. O esforço tem de ser mínimo. Não existe recompensa para o esforço, continuaremos com a nossa ambição, de qualquer forma.
Não importa que sejamos capazes, o conforto e o comodismo é o que vale. Estaremos felizes se tivermos nossos materiais. Jamais ficaremos desamparados, Deus olha por nós. Ainda que sejamos autossuficientes demais pra precisarmos dele.
Não faremos mal algum a nenhum ser - a menos que ninguém saiba. A menos que todos os olhos sejam cegos. O coração não sentirá se fingirmos prazer quando sentirmos as dores. Tudo o que acontece de ruim serve pra ser apontado e mascarado; as lições nós aprendemos quando crianças, com canetas, cadernos e apostilas. As regras servem pra serem seguidas e quem desobedecê-las será punido por Deus, irá para o inferno, não terá redenção nem direito a julgamento - esse já está sendo feito, os grandes decidem. Todos querem ser grandes e essa disputa faz de nós humanos vorazes, guerreiros e temidos diante do resto. O que é o resto? Bem... Só não sabemos pra quem precisamos provar nossa garra, mas não ousamos parar com nossa batalha, não podemos transparecer fraqueza nem por um segundo sequer; lágrimas sinceras são coisas simples demais, e os bravos não choram, devemos ser magníficos, gloriosos, vencedores!
Afinal o que significam todas essas questões? Não importa, não precisamos delas. Nossa própria essência se resume ao que satisfaz nossos desejos momentâneos e aparentemente supérfluos. Desde que saibamos quais desejos são, tudo está em paz.
Desde que saibamos o significado da paz.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Frigideira

Se toda panela tem a sua tampa, então talvez eu seja uma frigideira. Hmm será? Ás vezes penso que não. Mas quem sabe afinal?
Fui a um casamento na semana passada, com direito a tudo: flores, coral, padre tagarela, noiva chorona, noivo mais chorão ainda, festa, dança, canapés... Hmmm foi uma delícia!
Mas, lembranças gulosas à parte, vamos ao que interessa.
Como saber se aquela é a pessoa certa? No que pensam os casais que se separam após 10 anos de casados?
Onde vai parar todo aquele sentimento forte e devastador é o que me intriga. Já vi muita gente dizer 'eu te amo' como se fosse 'sanduíche de queijo' .
E minhas experiências amorosas não foram as mais bonitas ou cheias de ternura...
Já disse várias vezes que temo esse tal amor. Sei o quanto sou confusa e perfeccionista e portanto, sei que me casar seria a decisão mais muitobempensada de toda a minha vida. E olha que eu rodeio muito pra decidir as coisas!
Mas, me lembrando de um texto de um dos meus escritores favoritos, não temos como saber se vai dar certo, e acho que é aí que tá a graça toda.
A matéria do Globo repórter desta semana, mostrou como o nosso corpo age quando ama: O modo como se agitam todas as partículas em volta de nós; como o nosso cérebro trabalha pra que aquele prazer de somente ver a pessoa amada se manifeste e permaneça; como o nosso inconsciente busca qualquer vestígio do nosso objeto de adoração. Mas ainda tenho as minhas dúvidas...
É engraçado como todas as informações sobre amor me vem á cabeça de uma vez só bombardeando a memória; quase que tentando me convencer de que sim, o amor existe! E eu mesma tento me convencer disso. E, parando pra pensar, o que é amar afinal?
Penso no amor que sinto pela minha família, por exemplo. Eu sei que daria minha vida a qualquer um deles sem pensar duas vezes. E sei que nada faria sentido se um deles se ausentasse pra sempre. Acho que quando chegar a amar alguém é exatamente isso que sentirei, multiplicado por um número de vezes que ainda não sei bem qual é...
Pois é, medo.
Amar?
Talvez não para mim.
Quem sabe?
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